Hoje, 15 de dezembro, celebra-se o dia do arquiteto e urbanista.
Para o filme “O poço” de Galder Gaztelu-Urrutia (Netflix, 2020), retratado nas telas durante a pandemia, existem dois tipos de pessoas no mundo: as de “cima” e as de “baixo”. As primeiras pessoas são aquelas que usufruem de seus privilégios. Enquanto, as últimas, fazem escolhas somente por sobrevivência. Um tanto parecido com a vida pandêmica, em correlação com o afazer do arquiteto e urbanista.
Nestes tempos de pandemia, ficou nítido a separação entre as pessoas “de cima” e as pessoas “de baixo”. Estas que, inclusive, têm vivido desafios que vão desde os conflitos de ocupação dos espaços urbanos até o distanciamento social. A questão é que arquitetos e urbanistas têm a capacidade de construir, não inesperadamente, mais que um poço.
Vida e Arte – Arte e Vida
Aristóteles dizia que a “arte imita a vida”, mas Oscar Wilde afirmava o contrário. Não se sabe, de fato, até que ponto quem imita quem. Sabe-se que arte e vida, no entanto, se entrelaçam de maneira surpreendente e que um pode nos auxiliar na compreensão do outro. Ao construir para pessoas, edifícios e cidades, arquitetos e urbanistas se veem como num filme, em meio a pandemia, por exemplo. Eis a questão: como e para quem traçar os próximos projetos?
A metáfora de “O poço” parece ter se multiplicado de tamanho com o novo coronavírus. A “prisão vertical e assustadora” está presente entre nós. Com novas demandas por higiene, limpeza e conservação, acelerando o processo de segregação nos edifícios e cidades.
Nesta “nova vida” pandêmica os que “têm acesso ao projeto” viram aumentar as suas possibilidades e enquanto isso os que “não têm acesso”, ficaram mais distantes de seus sonhos, como mostra a 7ª arte. O mundo das pessoas de “baixo”, visto no filme, são como a legião atual de “desempregados e sem moradia” que cresceu com a COVID-19.
Arquitetando fábulas
O incentivo de cada indivíduo em buscar para si o máximo em detrimento do outro, presente na fábula de “O poço”, remete-nos a um futuro de barbárie. Arquitetos e urbanistas precisam evitar esta eficiência brutal presente na narrativa. Eles podem escolher ser detentores do projeto de um poço ou de uma, de fato, cidade.
Ao celebrar este aniversário de 2020, urge refletir sobre como seriam leis e normas mais saudáveis na “nova cidade” da pós-pandemia. E quando instituições, organizações e profissionais das áreas afins poderão minimizar essa deterioração da vida e dos espaços urbanos.
Em meio ao caos, fica uma mensagem do protagonista do filme: “somente uma solidariedade espontânea pode trazer mudanças”. Mas, como fazer essa mensagem ser notada quando, em um país de extrema desigualdade social e zero oportunidades, quem tem em abundância apenas quer mais, enquanto os que não têm nada se transformam em canibais?
O filme “O Poço” já passou, mas a pandemia não acabou. A cidade, os edifícios e as pessoas estão bem aqui. Sabe-se que existe o “fundo do poço”, mas arquitetos e urbanistas podem projetar para as pessoas de “cima” e as de “baixo” um mundo melhor.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Faculdade Sensu. Aproveite e conheça nosso site e visite nosso blog para mais textos.
1 comentário
Cris Lorencetti · 15/12/2020 às 23:54
Muito bom!
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