A preocupação com o custo e o excesso de uso do automóvel, especialmente nas grandes Cidades, fica cada vez mais intensa, com a celebração em 22 de setembro do “Dia Mundial Sem Carro”. A ideia nascida na França, em 1997, fundamenta que as pessoas experimentem, pelo menos por um único dia, formas alternativas de mobilidade.

É importante entender a questão multidimensional da mobilidade urbana. Ela mede não só o acesso a bens e serviços – as “vantagens” do deslocamento -, mas as conexões entre as pessoas e seu envolvimento com a Cidade.

A mobilidade exemplifica-se na condição construída pelas relações sociais, políticas, econômicas e de estilos de vida. E os veículos automotores têm sido protagonistas diários, especialmente nas áreas de circulação urbana, motivada por diversos conflitos de interesse.

A distância entre as vantagens e desvantagens do uso do carro nas Cidades ficaram maiores a partir do crescimento desordenado das mesmas. Enquanto as vantagens se dão quanto ao deslocamento, as desvantagens se dão quanto à questão ambiental. Os carros se tornaram uma das fontes poluentes do ar danosos à saúde.

Vendas de carros e pandemia

Apesar do apelo histórico do carro como objeto individual de conforto e rapidez, o automóvel tem tido sua venda e uso em queda na Europa e nos Estados Unidos. Mesmo antes da pandemia, em dezembro de 2019, conforme a revista Época, as vendas já demonstravam um declínio de 9% na Europa. Com a pandemia esta porcentagem foi ainda maior, de 32% na média de 2020, segundo reportagem da revista Euronews, em relação ao ano anterior.

É notório que severas restrições no deslocamento urbano devido à pandemia tivesse imposto camadas adicionais de complexidade a questão da mobilidade urbana. Mas, talvez isso tenha nos trazido ainda mais à tona a importância de se discutir o assunto.

Com a crise provocada pelo coronavírus e a redução drástica na mobilidade das pessoas com consequências socioeconômicas, logísticas e ambientais, ainda mais no transporte público coletivo, vale a pena perguntarmos: que impactos tivemos com o isolamento social no deslocamento dos variados grupos populacionais e quais foram as consequências?

Mobilidade e nova realidade

Deveríamos discutir modelos de mobilidade urbana para a nova realidade das cidades no contexto da pós-pandemia. Mas, será que estamos fazendo isso?

Vimos no Brasil, com a pandemia, segmentos mais vulneráveis da população, particularmente os que vivem em áreas periféricas, percorrendo maiores distâncias. Isso para ter acesso à saúde pública, à educação, ao trabalho e ao lazer. Ficou nítido que aqueles que possuíam carro estiveram em melhores condições para enfrentar a pandemia.

Em São Paulo, pesquisa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da startup Webmotors apontam preferência do uso do automóvel, bem como sua intenção de compra e uso, ao longo da pandemia. Fatos que só podem ser vividos por pessoas de renda mais alta, pois podem se deslocar de forma mais segura. Ao contrário disso, o transporte público, que gera maior aglomeração, foi reduzido e prejudicou a população de renda mais baixa.

Estamos, assim, diante de muitos desafios com a mobilidade urbana, especialmente quando nos referimos a justiça socioambiental.

Ao sonharmos com uma Cidade do futuro, parece que estamos ainda mais longe da tecnologia presente nos “Os Jetsons”, desenho animado da década de 60. Ou ainda que no clássico do cinema “De volta para o Futuro” (1985). Em ambos, carros voavam e pairavam nos céus.

Precisamos saber qual a Cidade que queremos para então definirmos o futuro de sua mobilidade. Conseguiremos viver melhor sem carro?

* Ricardo Ramos Alves é arquiteto e urbanista pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). É também professor universitário.

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