Hoje, 4 de novembro, comemoramos o Dia da Favela.
Mas, será que temos o que comemorar?
Antes de comemorar, precisamos pensar bem sobre o significado de um Dia da Favela no calendário oficial. Isso porque não se pode, em primeiro lugar, falar em favela sem entender do que estamos falando. A favela existe há mais de cem anos e mesmo assim ainda é muito mal compreendida, sendo vista como um problema.
Se olharmos para a construção do imaginário sobre a favela, veremos que desde seu surgimento ela abrigou os mais pobres, os negros e todos aqueles que não se enquadravam no que se chamava de boa sociedade.
Por vezes, o termo favela é usado de forma depreciativa. Contudo, são nesses locais de comunidade que muitas famílias acham um refúgio da opressão social e muitos sonhos de jovens começam a nascer.
Mas, você sabe por que o dia 4 de Novembro foi escolhido como o Dia da Favela e qual foi a primeira favela do Brasil? Bom, vamos te contar.
O termo favela apareceu pela primeira vez em um documento oficial no dia 4 de novembro de 1900, quando o delegado da 10ª Circunscrição e chefe de polícia da época redigiu um despacho dizendo que o Morro da Providência, se referindo a ele no escrito como favela, precisava ser limpo, dando a entender que a região era suja de pessoas, além de outros adjetivos negativos. Por conta desse triste fato histórico, o dia 4 de novembro ficou escolhido para celebrar o Dia da Favela.
O Morro da Providência é considerado a primeira favela do Brasil. Localizado no bairro Gamboa, na Zona Central do Rio de Janeiro, começou a ser povoado alí entre o finalzinho dos anos 1880 e 1890, por ex-escravos após a abolição da escravatura e pelos soldados sobreviventes da Guerra de Canudos.
Os governantes, que se enriqueceram com a escravidão, não estavam preocupados com a situação dos ex-excravos. Os afro-brasileiros tiveram que se defender sozinhos, indo em busca de trabalho e tendo que viver em assentamentos informais.
O primeiro assentamento informal tem forte ligação com a Guerra dos Canudos, combate armado entre os seguidores de Antônio Conselheiro e o Exército Brasileiro no município de Canudos, no interior da Bahia.
Em outubro de 1897, o Exército Brasileiro saiu vitorioso da guerra. E mais felizes ainda, pois havia sido prometido que se ganhassem a Guerra, ganhariam terras como pagamento ao retornarem. Promessa que não foi cumprida.
Ao voltarem ao Rio, ao final de 1897, e sem ter onde morar, os combatentes criaram casebres em uma região de morro. Assim, no início de 1898, nascia o Morro da Providência, que na época, era conhecido como Morro da Favela.
Muitos ex-escravos, sistematicamente excluídos, migraram para as favelas e se reuniram aos ex-combatentes.
O nome foi escolhido em referência ao arbusto que encobria a região de Canudos, conhecida como favela ou faveleira, arbusto espinhento, resistente e que causava irritação na pele ao ter contato. O termo foi se espalhando a outros morros e a partir de 1920, as ocupações de colinas com barracos e casebres passaram a ser reconhecidas como favelas.
As favelas historicamente não são regulamentadas pelo governo, e se auto desenvolveram ao longo de mais de um século, devido a negligência que até os dias de hoje perpetuam.
As favelas foram construídas por seus moradores, tijolo por tijolo. A maioria das favelas tem abrigado famílias por várias gerações, produzindo uma rica história em cada lar. Os moradores investem em suas casas, usando os mesmo materiais que são usados para construir os apartamentos regulamentados, que estão algumas quadras abaixo das favelas.
Precisamos reconhecer que a origem das favelas remete às nossas desigualdades sociais, culturais, raciais e econômicas mais gritantes. Estudos recentes, apontam que morar numa favela pode significar menos 20 anos de vida quando comparado com a expectativa de vida de um morador de áreas mais ricas da cidade.
Cerca de 17,1 milhões de pessoas vivem nas favelas brasileiras. Um grupo que, se somado, seria responsável pelo quarto estado mais populoso do país e representa 8% da população nacional.
A data celebra e serve para relembrar as lutas e resistência do povo favelado ao longo de todos esses anos. Viva a favela!
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