A noite desta segunda-feira (5) no BBB21 foi polêmica. Durante o Jogo da Discórdia, João disse a Rodolffo como se sentiu acerca da fala que o goiano fez comparando seu cabelo black power a peruca do Monstro, de homem das cavernas. João foi vítima de racismo, um racismo estrutural e feroz que está no confinamento daqui de fora e no da casa mais vigiada.
Além disso, a desistência de Lucas Penteado depois de diversas injustiças sofridas contra ele; o surto de Gil e diversas crises de ansiedade parecem ter muito o que dizer sobre o que nossa sociedade vive. Assim, o Big Brother Brasil deste ano traz diversas chances de debate em torno da violência e da saúde mental, quando a edição acontece durante a pandemia de covid-19.
Os participantes enfrentam um isolamento dentro de outro isolamento. E, para muitos estudiosos, isso pode agravar sintomas de fobias, depressão e ansiedade. E não, esses sintomas não aparecem do nada com a pandemia. É porque uma situação extrema costuma escancarar o que nós carregamos, enquanto indivíduo e sociedade.
Ao longo deste artigo, será abordado como o confinamento expõe o que parece não existir, no que se refere à saúde mental, afetando o bem-estar e a relação com os que estão à nossa volta; assim como de que modo a reclusão dos brothers no programa durante a pandemia pode agravar conflitos e a condição mental dos participantes.
Confinamento e saúde mental
A pandemia de covid-19 trouxe uma mudança drástica na vida de todos, junto com uma avalanche de informações sobre o confinamento. Neste cenário que tanto nos lembra os filmes de ficção científica, estamos diante de diversos desafios psicológicos: lidar com o estresse, a angústia, a violência e o medo.
Viver uma pandemia não estava nos nossos planos. Segundo a professora de Psicologia Lydiane Streapco, “nossa geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade”. Para ela, a situação abala as relações entre as pessoas e afeta nosso bem-estar.
A mudança abrupta revela ainda muita angústia, antes represada, agora em cena com a nossa limitação perante a morte. Sempre tentamos nos adaptar ao mundo, deixando a morte de lado. Mas a morte se faz o centro de nossas convivências constantes com as pessoas da casa, ao home office (quando possível), e com o cuidado integral dos filhos, afastados da escola.
Os cuidados..
As políticas públicas vetam o funcionar de diversos estabelecimentos, o que restringe o lazer de pessoas, que precisam encontrar novas formas de entretenimento. Em paralelo, serviços de streaming, como Netflix e Prime Video, disparam nas escolhas de quem quer diversão em casa.
Mesmo os cuidados com a saúde buscam soluções remotas: consultas a distância se tornam comuns à medida que os pacientes evitam ao máximo pisar nos hospitais e se expor ao vírus. São muitas adaptações agora que a morte está cotidianamente, dentro de casa. Assim, podem se revelar conflitos entre pais, filhos e casais.
Para Célia Fernandes, da Enfoque Clínica de Psicologia em Brasília, precisamos mais do que nunca trabalhar a fala e a escuta, assim como compreender que as pessoas têm personalidades e interesses diferentes. A reclusão agrava o estado emocional de quem já tinha transtornos emocionais, como pessoas com ansiedade e depressão, gerando conflito entre quem não tinha hábito de passar tanto tempo em família.
Notícias, fake news e saúde mental
Além disso, há o excesso de notícias conflitantes sobre a pandemia. Números de mortes que crescem a cada dia, discussões políticas e a dificuldade em obter vacinas e outras. Há também muita fake news, o que aumenta a incerteza e a insegurança das pessoas com relação ao período difícil que estamos vivendo. Tudo isso pode gerar muito sofrimento emocional.
O confinamento pode ter diversos efeitos na saúde mental. A sensação pode ser tão angustiante que é comparada à tortura física. Como, então, o ser humano necessita de contato social, o confinamento pode escancarar a ansiedade, o estresse, a depressão, o desespero, a raiva, a irritabilidade, a hostilidade e os ataques de pânico, além de agravar problemas de saúde mental preexistentes. Já se tornou comum cenas de violência empregadas àqueles que pedem o uso de máscara. Cenas dolorosas e cotidianas em nossas redes.
Com o confinamento, os espaços estão murados, ou seja, restritos. E, por não termos tempo de contato com o outro, ficamos presos em nós mesmos. Para os muitos que estão em casa durante a quarentena, a casa pode parecer uma espécie de solitária. Além disso, a ansiedade ainda piora com a insuficiência das relações virtuais.
Big Brother Brasil e pandemia
Se o confinamento já é difícil para quem está em casa com a família e falando à distância com amigos, imagine quão complicado é para os membros do Big Brother Brasil?
Lucas saiu do BBB no meio de uma crise. A decisão de desistência do participante ocorreu após um beijo entre Lucas e Gilberto. Os dois se beijaram durante uma festa do programa e Lucas afirmou ao colega ser bissexual. Assim, Lucas teve sua bissexualidade questionada por alguns brothers, o que foi uma grande violência de gênero imposta contra ele.
A postura de Karol Conká dentro do BBB, por exemplo, se tornou o principal assunto, enquanto ela esteve no programa. Karol tinha comportamento violento, tóxico, abusivo, preconceituoso e manipulador. Adorava jogar uns contra os outros. Karol, que saiu com o índice de rejeição mais alto da história do programa, afirmou não estar nada bem quanto a sua saúde mental e que buscaria terapia.
Na ocasião da saída de Sarah, o público viu Gilberto protagonizar um momento de desespero, com gritos desesperados e dificuldade de respirar. Paranoia, explosões de violência, retraimento social… são muitas as possibilidades do nosso corpo para lidar com a situação de isolamento e de violência.
Saúde mental e física
Em suma, para os participantes, sair do isolamento social para um isolamento ainda maior, sem uso de redes sociais, contato com a família ou amigos, tem um custo muito alto. Mas isso não é justificativa, ainda mais para atos violentos, como o de Rodolfo e Karol Conká.
Vale lembrar que o isolamento costuma escancarar toda a violência contida em nós. Violências como as já citadas, ameaças, racismo, xenofobia e “tortura psicológica”, por exemplo. Tudo o que já estava lá antes da pandemia, está agora elevada a enésima potência.
Quanto à saúde física, a reclusão pode causar sintomas como, por exemplo, dores de cabeça, problemas digestivos, palpitações cardíacas, fadiga, problemas de sono, entre outros. Muitos internautas falavam sobre a chance de o excesso de sono de Pocah no início do programa ter sido resultado da reclusão na casa.
Como a ansiedade obstrui a capacidade de pensar e a mente ergue muros internos, o ato dos brothers fica de certa forma difícil de prever. À medida que o tempo passa e as relações são feitas e desfeitas na casa, os membros não apenas lidam com os conflitos internos, como com os conflitos com outros membros e a incerteza sobre a imagem que o público faz de cada um deles fora do programa.
A disputa e a violência
A disputa pelo prêmio de R$ 1,5 milhão coloca muita pressão psicológica nos participantes, mas se por um lado aqui fora lidamos com a enxurrada de informações, os brothers lidam com a falta de informação.
Enquanto a casa serve de entretenimento para os milhões de espectadores e opinam sobre os conflitos na tela, podemos também criar diversos debates construtivos sobre posturas e situações do dia a dia que muitas vezes reproduzimos, também.
Relações abusivos, racismo, ansiedade, depressão e as reações a cada uma das situações enchem as redes sociais de teorias, bem como de espectadores sobre o ato dos brothers no programa. Mas também sobre o que nós faríamos — e sobre o que estamos fazendo — diante do necessário confinamento durante a pandemia.
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